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Linha do Norte - Um erro estratégico de desenvolvimento nacional

Muitos troços da linha do Norte estão no limite de capacidade. A saturação da linha do Norte, entre Lisboa e Porto, está a estrangular a oferta da CP. A operadora ferroviária nacional não só está impossibilitada de “lançar mais oferta de serviços praticamente em todas as famílias de comboios de passageiros (suburbanos, regionais e longo curso)” como ainda de responder ao “acréscimo de tráfego de mercadorias”, revela um estudo preliminar da Refer ao qual o Correio da Manhã teve acesso.
A capacidade utilizada em toda a linha do Norte, com uma extensão de 335 quilómetros, está próxima ou ultrapassa os valores máximos admissíveis de utilização para garantir adequados níveis de qualidade e fiabilidade dos serviços”, conclui o estudo elaborado pela Refer.A linha do Norte acolhe desde comboios suburbanos, nas zonas do Porto e de Lisboa, até comboios rápidos com serviço alfa pendular, que ligam as duas principais cidades. “Há troços da linha do Norte em que a capacidade está nos cem por cento”, explicou ao CM fonte da empresa.Ao todo, circulam diariamente naquela linha 637 comboios, desde suburbanos com velocidades médias de 40 quilómetros até serviços rápidos entre as duas cidades com velocidades médias de 120 quilómetros. Serviços que, recorde-se, foram recentemente reforçados. O que equivale a dizer que se todos os comboios percorressem a linha 24 horas por dia, em média sairia um comboio de uma estação a cada dois minutos, de acordo com as contas feitas pelo CM. O estudo revela que só o troço entre Lisboa-Alverca (linha quadruplicada) tem alguma capacidade de crescimento e tem procura.


Mercadorias sem Canais
- A falta de capacidade da linha do Norte está também a atingir o transporte de mercadorias e pode mesmo comprometer o Projecto Portugal Logístico, um programa que prevê afirmar Portugal nos fluxos intercontinentais de mercadorias, lê-se no estudo preliminar da Refer. “Já temos dificuldade em arranjar canais para os comboios de mercadorias”, confirma um fonte da empresa, explicando que o transporte internacional (para Espanha) exige muitas vezes que a partida seja efectuada durante o dia, de forma a garantir a compatibilidade com canais horários internacionais. Com a linha já saturada com o transporte de passageiros, as mercadorias acabam por ter de ser recusadas. Por outro lado, a necessidade de manutenção da infra-estrutura durante a noite, que origina a interrupção da circulação, também inviabiliza a sua utilização pelos comboios de mercadorias.


Fonte: Manuel Moreira, Jornal Correio da Manhã de 25 de Junho de 2007.


Comentário: Esta notícia vem revelar o erro estratégico que tem sido seguido ao longo dos anos pelos mais diversos Governos que têm estado no poder e que eu já referi em várias ocasiões neste blog. Ao concentrar todo o tráfego ferroviário na Linha do Norte, depressa se esgota a capacidade da infraestrutura, sendo necessário gastar novamente milhões de euros para aumentar essa capacidade.Mas o mesmo poderia ser evitado se fosse construída uma linha paralela à linha do norte mas pelo interior do país, com origem em Faro, derivando na Funcheira para Beja até Évora e ligando Évora - Portalegre - Castelo Branco - Covilhã - Guarda - Bragança. Esta solução, permitiria aproveitar os troços já existentes até Évora e de Castelo Branco até à Guarda, sendo apenas necessário a sua renovação nalguns locais. Outros teriam de ser construidos de raíz, tais como Évora - Portalegre, Portalegre - Castelo Branco e Guarda - Bragança. Desta forma, estariam criadas as condições para a implementação do Projecto Portugal Logístico, dando resposta ao crescimento do tráfego de mercadorias. Quanto ao tráfego de passageiros, seria dado um novo impulso para que todos usassem este meio de transporte, deixando os carros em casa e ajudando o ambiente, além de que o potencial turístico destas regiões sairia beneficiado, levando a que pudessem surgir por todo o interior, novos projectos turisticos. Infelizmente, apenas o litoral consta dos mapas dos Governos e o interior continua esquecido e votado ao abandono, condenado a maior desertificação. Não se criam condições para o desenvolvimento económico do interior nem da sua rede de transportes que são fundamentais para atrair investimento. Ainda há tempo para corrigir o erro, mas não deixará de haver consequências económicas no país por esse motivo.


Exemplos:
  1. Para ir de Évora a Castelo Branco, é necessário ir a Lisboa e dali apanhar o combóio para Castelo Branco, que usa até ao Entroncamento a linha do norte.
  2. De Faro a Bragança nem sequer à ligação por combóio, mas se for de Mirandela a Faro, terá de ir ao Porto, usar a linha do norte até Lisboa e daqui para Faro.
  3. Da Guarda a Mirandela é necessário vir ao litoral até ao Porto, pela linha da Beira Alta, usar a linha do norte e voltar ao interior pela linha do Douro até Mirandela.

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